terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Dia 1: Sobre escrever e parar de escrever


Comecei a escrever bem jovem. Recém alfabetizada. Lembro-me de ter tido meu primeiro diário “corrigido em ortografia e gramática” pela minha única amiga da infância. Não era bem isso que eu queria mostrar para ela naqueles tempos. Foi a única coisa que ela viu. Não somos mais tão amigas.

Os primeiros esboços de poesia com desabafo começaram durante essa infância, aquela paixão platônica por um célebre da tv. Ganhei meu primeiro diáriocomcadeado aos nove anos, lá contei sobre quase tudo dessa vida. Tive o segundo&terceiro&quarto e em algum momento os desabafos viraram prosa, crônica, poema&poesia. Todo caderno velho era desculpa para uma nova narrativa adolescente cheia de dor&amor&rejeição&interrogação.

Eram dias de férias quentes na praia ou em casa, escrevendo e colocando para fora sentimentos. A cadeira puxada por uma colega na 8ª série para que eu caísse na frente da turma durante um filme na escola. A pergunta de um menininho na fila da escola – Por que você usa cabelo de menino? Da minha apaixonite pelo professor de natação. Meus projetos de quando tivesse 24 anos.

Tive blog sobre fofoca, blog sobre homens&relacionamentos cis, blog de crônicas. Leio blogs sobre fofoca, leio blogs sobre homens&relacionamentos, leio blogs de crônicas, leio blogs feministas, leio blogs de moda, leio blogs de ativismo negro, leio blogs sobre ativismo religioso, leio blogs sobre culinária&dieta. Leio. Tão bom quanto escrever. Tão cansativo quanto escrever. Tão dolorido. Tão prazeroso. Tão.

Hoje quase não escrevo, muito leio, tento praticar a escutatória, aprendo todo dia um pouquinho. De intolerante a tolerante. Do preconceito à empatia. Do desafeto ao respeito. Houve um tempo em que tinha orgulho do que eu dizia, das ideias&ideais, das boas histórias que eu tinha pra contar. E, um dia, alguém me disse que estava lendo todas essas coisas que eu achava ó-tão-legal e ó-tão-criativas, mas que parou porque tinha vergonhaalheia de mim, daquilo que eu escrevia e achava ó-tão-legal. Eu gostava dessa pessoa. Essa pessoa dizia que gostava de mim. Parei de escrever.