Comecei a escrever bem jovem.
Recém alfabetizada. Lembro-me de ter tido meu primeiro diário “corrigido em
ortografia e gramática” pela minha única amiga da infância. Não era bem isso
que eu queria mostrar para ela naqueles tempos. Foi a única coisa que ela viu.
Não somos mais tão amigas.
Os primeiros esboços de poesia
com desabafo começaram durante essa infância, aquela paixão platônica por um
célebre da tv. Ganhei meu primeiro diáriocomcadeado aos nove anos, lá contei
sobre quase tudo dessa vida. Tive o segundo&terceiro&quarto e em algum
momento os desabafos viraram prosa, crônica, poema&poesia. Todo caderno
velho era desculpa para uma nova narrativa adolescente cheia de
dor&amor&rejeição&interrogação.
Eram dias de férias quentes na
praia ou em casa, escrevendo e colocando para fora sentimentos. A cadeira
puxada por uma colega na 8ª série para que eu caísse na frente da turma durante
um filme na escola. A pergunta de um menininho na fila da escola – Por que você
usa cabelo de menino? Da minha apaixonite pelo professor de natação. Meus projetos
de quando tivesse 24 anos.
Tive blog sobre fofoca, blog
sobre homens&relacionamentos cis, blog de crônicas. Leio blogs sobre fofoca,
leio blogs sobre homens&relacionamentos, leio blogs de crônicas, leio blogs
feministas, leio blogs de moda, leio blogs de ativismo negro, leio blogs sobre
ativismo religioso, leio blogs sobre culinária&dieta. Leio. Tão bom quanto
escrever. Tão cansativo quanto escrever. Tão dolorido. Tão prazeroso. Tão.
Hoje quase não escrevo, muito
leio, tento praticar a escutatória, aprendo todo dia um pouquinho. De
intolerante a tolerante. Do preconceito à empatia. Do desafeto ao respeito.
Houve um tempo em que tinha orgulho do que eu dizia, das ideias&ideais, das
boas histórias que eu tinha pra contar. E, um dia, alguém me disse que estava
lendo todas essas coisas que eu achava ó-tão-legal e ó-tão-criativas, mas que
parou porque tinha vergonhaalheia de mim, daquilo que eu escrevia e achava
ó-tão-legal. Eu gostava dessa pessoa. Essa pessoa dizia que gostava de mim.
Parei de escrever.